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Saúde mental: atenção redobrada nas instituições de ensino superior

por Jaqueline Damaceno e Vanessa Forte

Os altos índices de universitários que desenvolvem transtornos psicológicos ao longo da graduação preocupam as instituições de ensino. A discussão se tornou frequente no meio acadêmico. Em 2016, 80% dos universitários declararam passar por dificuldades emocionais, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES).

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Os casos de suicídios entre jovens e adolescentes do ensino superior são registrados no Brasil. Em 2018, aconteceram quatro suicídios de estudantes da Universidade de São Paulo (USP). A incidência desses acontecimentos reforça a importância de as universidades discutirem o assunto e realizarem ações de promoção à saúde mental. No contexto universitário, o acompanhamento psicológico é importante para todos os alunos, daqueles que apresentam alguma dificuldade emocional até o mais interativo.

A cooperação da comunidade acadêmica é essencial para o acolhimento dos alunos que apresentam problemas emocionais. Em Vilhena, existem 7 polos universitários. A Universidade Federal de Rondônia (UNIR) é uma das maiores do município, com cinco cursos. O diretor da instituição, Jorge Medrano, revelou haver poucos casos de estudantes à procura de auxílio psicológico. As ocorrências que chegaram até a diretoria do campus não eram alarmantes.

Como o campus não oferece um centro ou núcleo de apoio aos acadêmicos, eles ficam desamparados quando situações necessitem de um profissional da área da saúde mental. Ainda assim, Medrano diz que é feito o possível para ajudar os alunos. Quando possuem casos extremos, o campus entra em contato com a unidade em Porto Velho.

Diretor do campus de Vilhena da UNIR, Jorge Medrano, diz que casos locais são encaminhados para a capital. Fonte: Jaqueline Damaceno.
Diretor do campus de Vilhena da UNIR, Jorge Medrano, diz que casos locais são encaminhados para a capital. Fonte: Jaqueline Damaceno.

A estudante do curso de Letras da UNIR, Lívia Nunes, de 20 anos, diagnosticada com ansiedade, revela que não encontrou apoio para socializar e dividir sua condição na universidade. Ela conta que existe falta de preparo do campus para receber os alunos com problemas. Além disso, a instituição não oferece atendimentos psicológicos ou espaços reservados para socialização e discussão.

Por outro lado, a Faculdade Integrada Aparício Carvalho (FIMCA) possui o Núcleo de Acompanhamento e Integração Acadêmica (NAIA). Segundo a responsável Sâmela Andrade, o centro de apoio recebe, durante o ano letivo, vários casos de estudantes com problemas emocionais e psicológicos. Em 2018, 25 estudantes em casos extremos necessitaram de acompanhamento especial. O NAIA está aberto para todos os alunos que queiram conversar sobre as dificuldades do dia a dia.

“Alguns vêm por conta própria, outros são encaminhados por professores, quando percebem alguma dificuldade. E uns até mesmo pela coordenação. Eles conversam e expõem. Eu fico satisfeita pela abertura que eles têm”, explicou. 60 alunos fazem acompanhamento psicológico pelo NAIA, a maioria cursa Enfermagem e Engenharia Civil.

Professora destaca a importância do centro de apoio estudantil. Fonte: Jaqueline Damaceno
Professora destaca a importância do centro de apoio estudantil. Fonte: Jaqueline Damaceno

Diferente da FIMCA, a UNIR, não possui um núcleo de apoio no campus de Vilhena. O único centro fica em Porto Velho. “Em 2017, a universidade teve dificuldades parar tratar um aluno com problemas emocionais e passamos para a sede, em Porto Velho. Esta situação está entre umas das poucas que foram necessárias medidas drásticas”, contou Jorge Medrano.

A psicóloga Natália Romano, responsável pelo núcleo de apoio da UNIR no campus de Porto Velho, explicou que a Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis (PROCEA) fornece aos acadêmicos o Serviço de Apoio Psicossocial (SAP). O núcleo é composto por duas assistentes sociais e uma psicóloga. A equipe trabalha com prevenção, informação e orientação.

De acordo com a psicóloga, a universidade deve ser um espaço de acolhimento e construção mútua de saberes. “Cada realidade é particular e diferentes motivos podem justificar tal questionamento. No entanto, como psicóloga da instituição, acredito que a gratuidade do serviço, aliado à facilidade de deslocamento, uma vez que o atendimento é realizado no próprio campus, contribui e pode ser um incentivo à procura dos acadêmicos por este serviço na própria instituição”, afirmou.

Segundo a psicóloga Daniele Naconechny, os professores têm grande responsabilidade com a saúde mental dos alunos. Esses profissionais devem conversar com os estudantes e oferecer ajuda assim que detectar algum problema. A professora Sâmela Andrade comenta que as faculdades precisam se adaptar, para propor melhor atendimento aos alunos. “Os núcleos de apoio representam aos acadêmicos uma forma inicial para tratar as suas dificuldades. Quando a instituição se mostra preocupada com as dificuldades e engajada a proporcionar um auxílio, ela terá cada vez mais importância na vida do aluno”, declarou Andrade.

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A procura de apoio é fundamental para o estudante. O assistente social Jessé Ramos recomendou que as pessoas próximas aos estudantes fiquem atentas. “É um período estressante. Qualquer sintoma demonstrado, seja dor de cabeça, cansaço e até tristeza, pode ser indicação de que a pessoa esteja com problemas”, esclareceu.

A Faculdade de Educação e Cultura de Vilhena (UNESC) foi consultada, mas preferiu não conceder entrevista. Segundo os seus representantes, o centro para o atendimento psicológico aos alunos está em reestruturação e mais informações só poderiam ser confirmadas após a sua conclusão.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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